Suprema (2024)

Danilo Morales é uma máquina reprodutora de pesadelos multimídia. É escritor, membro da Academia Joseense de Letras, cineasta com mais de dezessete filmes, criador do Festival POE de cinema fantástico e o frontman da produtora de filmes independentes Psíquico Produções. Sua audácia em criar ambientes sombrios a partir de idéias simples já o torna uma parte indispensável no cast do cinema de horror nacional.

Atualmente, Danilo escreveu o livro Suprema. Lançado pela Editora Novo Século, este livro nos apresenta a bruxaria em seu estado mais monstruoso e nenhum filtro é colocado. Necrofilia, assassinato de infantes, maldições e canibalismo são comuns em suas páginas e o final da trama é um turbilhão de emoções que assustará até o mais forte dos leitores. E este livro acabou por se tornar um filme também...

Suprema foi produzido pela Psíquico Produções e não deve nada à história do livro. Sua execução é cativante e frenética. O filme tem aquela ar de cinema de horror dos anos 80, com seus exageros e clichês, além de apresentar uma enxurrada de referências e homenagens à grandes clássicos do gênero como Suspiria (1977) e The Evil Dead (1981).

Na trama conhecemos Nina (Juliana Seabra), uma jovem do interior com um passado conturbado e que trabalha como garçonete na cidade grande. Certo dia conhece Angelique (Larissa Harmônica), uma abastada artista que simpatiza coma pobre jovem, auxiliando sua estadia na cidade de pedra. O que Nina não sabia é que Angel (como Angelique gosta de ser chamada) é uma bruxa burguesa que participa de um coven dos Caminhos da Mão Direita.

No passar do tempo, Angel inicia sua convidada nos Mistérios Femininos da Grande Mãe, mas com uma advertência; jamais utilizar a magia para fazer mal à outros seres humanos. Infelizmente Nina embarca numa sombria jornada, juntando-se às forças malignas para atingir seu êxtase supremo, que é se vingar de Ricardo (Romulo Scarinni),  aquele que destruiu sua vida de maneira irreparável no passado.

A atuação de Juliana Seabra é, literalmente, monstruosa no filme. Como Nina ela passa de uma pobre garota do interior à um demoníaco instrumento de destruição num piscar de olhos. O trabalho da equipe de FX (Vinícius Nascimento e Gabriela Reis) unido às mãos mágicas do maquiador de efeitos Dennis Dal Bello entregam ao espectador uma avalanche de gore e imagens que só poderiam ter sido retiradas dos pesadelos de um moribundo. A Nina rediviva conseguiu me arrancar alguns arrepios com as lentes de contato brancas e um jeito animalesco de se movimentar e tal qual o legista interpretado por Carlos Rosa eu só tenho uma coisa a falar: Caralho...caralho!!!

Ainda no quesito maquiagem FX, eu bato palmas à criação de Dal Bello na concepção do demônio do filme. Interpretado por Rodrigo Galo, o “capiroto” mesmo com pouco tempo de tela apresentou uma performance digna e assustadoramente impactante.

O único defeito no filme (na minha humilde opinião) foi o exagero dos cortes em jump cut. A transição das cenas seriam melhor exploradas se uma forma diferente de corte fosse utilizada, como como dissolvências, íris, ou até efeitos especiais de forma suave e coerente, sem que o espectador sinta uma mudança brusca durante a experiência.

Suprema foi exibido na Mostra Calafrios de Cinema Fantástico, na Sessão Macabra e no festival Morce-Go Vermelho e o diretor já pensa num segundo filme, também baseado no livro que dá continuidade à saga de Nina,  Lilitu Escarlate.