Conheça o projeto, "Lena – Paixão Sobrenatural"
- Suburbia Horror Show
- 30 de jan. de 2024
- 4 min de leitura

“Lena – Paixão Sobrenatural” começou a ser desenvolvido nos anos 60 do século passado, com a vivência de José Roberto Milici em uma pós-adolescência de bailes e azarações. Acompanhou o autor por toda a sua vida, seu casamento, na educação de seus filhos, em sua profissão como jornalista do Estadão, com um olhar sempre voltado para o gênero fantástico. Foi reescrito diversas vezes, seja através de máquinas de escrever, à mão e em diversos computadores desde o antigo TK90X, entre letras de música, poesias e contos assombrosos. Em 2010, José Roberto Milici faleceu, em decorrência de complicações após um transplante renal, com seus filhos prometendo que um dia esse livro, e toda a sua essência romântica e assustadora, seria publicado. Reescrito e atualizado por Marcelo Milici, que acrescentou poesias e finalizou o conteúdo, “Lena – Paixão Sobrenatural”, graças à parceria com a Editora Alarde, tem a chance de ser finalmente conhecida em todo o seu alfabeto aterrorizante.
Poderia acontecer com qualquer um: após o término de um relacionamento, aquele amigo do inglês macarrônico o convida para uma festa de formatura com o objetivo de tentar trazer pessoas novas para o seu convívio. O que Paulo não imaginava é que aquelas irmãs de semelhanças físicas atraentes e características bem distintas um dia iriam grudá-lo a uma série de eventos que vagarão entre múltiplas sensações – do afeto à repulsa, da atração ao asco, numa proporção alfabética – convencendo-o que o Inferno pode ter uma cor bem diferente da proeminente da imaginação popular.

Algumas semelhanças físicas se anulam no olhar ingênuo de Helena e no sorriso maroto de Malena, entre a timidez e a ousadia; a sinceridade e a ludibria. Como o ser humano se permite manter essa dualidade, no caso das irmãs ela funciona como um encaixe perfeito. A ausência de uma das partes pode trazer desequilíbrio e caos, na mesma proporção que a convivência é absolutamente impossível pelas diferenças que definem suas particularidades. Nesse embate o protagonista se vê perdido entre conflitos amorosos e interesses, enquanto pinceladas de horror vão surgindo aos poucos em sua retina.
Duas almas grudadas num corpo único muitas vezes compartilhando pele, estrutura óssea e até órgãos, os irmãos siameses ou xifópagos são considerados uma anomalia na Medicina, embora casos sejam conhecidos desde a cultura antiga, com relatos na produção artística da Civilização Moche. Os avanços na Medicina permitiram a realização de cirurgias que deram independência aos compostos – mesmo a contragosto em muitos casos. Se a convivência entre irmãos normais já é complicada pelo uso comum de roupas e cosméticos, pode-se tornar mais atenuante entre os gêmeos. Dizem que eles compartilham não só aspectos físicos, mas sensações, podendo até mesmo dividir uma mesma dor à distância. Não é o caso das Lenas de José Roberto Milici.

Nas páginas iniciais o leitor se torna testemunha da primeira troca de olhares entre Paulo e as gêmeas, mas já é alertado de seu conteúdo passível de enganar: “uma história de amor, que começou drama romântico e culminou no pior e mais terrível grand-guignol, que alguma mente doentia pudesse sonhar.” E não é exagero do autor. Sua obra xifópaga pode ser dividida, sem possibilidade de ferir qualquer parte, entre dois atos – o primeiro, com a aproximação do personagem principal numa situação aparentemente comum, envolvendo relacionamentos complicados, ciúmes doentios, atração incondicional, típicas de um romance do século XIX; o segundo, na imersão do protagonista em um universo absolutamente sobrenatural e assustador, desafiando suas mais inatingíveis crenças.
Antes que você se questione, esta é, sim, uma história de horror. No entanto, José Roberto Milici vai aos poucos preparando o leitor para a parte mais sombria, enxertando boas doses de humor e cultura.
E é desse modo, criativo e envolvente, que o autor deixou rastros de sua existência por onde passou, seja como jornalista no Estado de S. Paulo, como desenhista, poeta, crítico, professor e até figurante em novelas e comerciais. Foi um pai transformador, um marido motivador, um articulador geminal em busca de desafios, um projetista de bonecos e máscaras, que soube transparecer entre tantas virtudes sua disposição para realizações e sua dedicação à família e amigos. Possui poesias e músicas – algumas ilustram o livro -, contos, cartas e crônicas, pinturas e diários.

Marcelo Milici é o fundador do site Boca do Inferno, há mais de vinte e três anos. Professor, escritor, poeta, baterista, tem dedicado sua vida à propagação do horror através de sua produção criativa, com contos em mais de 15 antologias, além da enciclopédia “Medo de Palhaço”. É responsável por alguns dos poemas da obra, incluindo a música do personagem, além de ter feito o trabalho de revisão e algumas reescritas.
Sinopse: Paulo se apaixona intensamente pela jovem e perversa Malena, irmã separada por cirurgia de Helena. Mas o que a ciência separou fisicamente não impede que as duas se mantenham unidas mesmo depois da morte, na concepção de uma entidade aterrorizante conhecida como Lena. Ele precisa descobrir um meio de impedir que as sombras levem a alma da mais frágil, mesmo que para isso precise acreditar em coisas que nunca antes imaginou. Como fazer isso? Esse é o X da questão.
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